A rotina da aposentada Luíza Araújo Carvalho não era nada fácil. “Roncava muito à noite. Muito mesmo. E esses roncos afetaram meu casamento. Eles (roncos) foram um dos motivos da minha separação. Isso sem falar no comprometimento emocional e no trabalho. Eu já não conseguia ter produtividade e chegou ao ponto de ser demitida”, conta.

Luíza viu a situação agravar. A lista de sintomas era grande. Acordava mal, ofegante, sentia falta de ar, sensação de formigamento, dor no peito, boca seca, alteração de humor e irritação. O pior veio depois. Certa vez, as duas filhas observaram a mãe na cama e acharam que ela havia morrido. Elas começaram a gritar, chamar a tia e outros parentes. Essa foi a gota d’água para procurarem um médico que, ao ouvir os relatos, suspeitou da apneia do sono e confirmou por meio de exames.

Que doença é essa que atinge Luíza? É uma patologia que acomete cerca de 33% dos brasileiros, de acordo com a última pesquisa do Instituto do Sono de São Paulo. O levantamento revela que a maioria é formada por homens e, em geral, os pacientes têm mais de 40 anos de idade.

A Apneia Obstrutiva do Sono é um distúrbio, potencialmente grave, que provoca a obstrução parcial ou total das vias aéreas, enquanto a pessoa dorme. Na prática, o paciente deixa de respirar por alguns segundos, o que representa um perigo. O otorrinolaringologista Dr. Jessé Lima alerta sobre a necessidade de reconhecer os sintomas. “São vários, mas os principais são roncos frequentes, sonolência durante o dia, sensação de sufocamento ao acordar, boca seca, depressão, irritabilidade e impotência sexual”, enumera o médico.

São diversos, também, os fatores que levam à apneia. “A doença provoca o relaxamento dos músculos da garganta e o fechamento das vias respiratórias. Com a interrupção da respiração, há redução do nível de oxigênio no sangue. Isso se repete várias vezes ao longo da noite, o que gera um desgaste e pode causar sérias consequências”, ressalta o Dr. Lima.

O diagnóstico é possível por meio da polissonografia. O exame se baseia em testar diferentes aspectos durante o sono. Entre eles, batimentos cardíacos, movimentos dos olhos, das pernas e a saturação de oxigênio no sangue. O otorrino esclarece: “Com o resultado em mãos, o profissional vai atrás da origem e aí, sim, pode direcionar o tratamento”, que poderá ser conduzido por meio de medicamentos, cirurgias e uso de aparelho intraoral, que posiciona a mandíbula mais para frente e possibilita a passagem do ar.

Em 2007, a Academia Brasileira de Ronco e Apneia divulgou que 26% dos motoristas de transporte de cargas, num grupo de 100 mil, tinham alto risco para desenvolver apneia. A pesquisa revelou que 38% dos motoristas de transporte coletivo, em São Paulo, na época, eram apneicos. A Comissão Nacional sobre Distúrbios do Sono (USA) fez um estudo e comprovou que 100 mil acidentes, por ano, nos Estados Unidos, são provocados pela sonolência, e boa parte tem como causa a apneia.

“As pesquisas refletem uma realidade que não pode ser considerada sem importância pela sociedade. As informações mostram os perigos da doença e o alcance desses riscos, que vão além do dormir mal. O paciente fica com a saúde comprometida, com o trabalho comprometido. Quem pensa que apneia pode, apenas, provocar as dificuldades de sono, engana-se. A doença pode matar, caso o paciente não procure, o quanto antes, um tratamento”, avalia o Dr. Jessé Lima.

A aposentada Luíza Araújo, hoje, sente-se bem melhor. Nove meses depois do diagnóstico, ela usa o aparelho e garante que tudo mudou. “Voltei a ter a rotina de antes, a fazer todas as coisas que eu não fazia quando estava no auge da doença”, destaca.

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Referência em Otorrinolaringologia


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